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Quatro famílias e a causa animal

  • Foto do escritor: Eliza Ranieri
    Eliza Ranieri
  • 5 de dez. de 2017
  • 3 min de leitura

A vida de quem se dedica a outras vidas


Com Victoria Mancino e Fernanda Andrade



A família de Pamela no quintal de sua casa, na Ilha do Governador. Foto Eliza Ranieri


Ser voluntário é utilizar seu tempo para fazer o bem a alguém. A solidariedade motiva projetos como o Focinhos de Luz, Ajuda Animal Ilha e Pet Sem Dono, onde pessoas se empenham no cuidado de animais maltratados e abandonados.


Um terreno em Santa Cruz estimulou o sentimento solidário da roteirista Vivian Perl, de 68 anos, e mais oito pessoas. Em 2010, o local abrigava 450 animais doentes, era sujo e com cheiro forte. Motivados a salvá-los, o grupo fez um empréstimo de R$40 mil, comprou um terreno em Sepetiba e criou o projeto Focinhos de Luz, que realiza feiras de adoção, aos sábados, no Recreio Shopping.


Sete anos depois, eles ainda pagam R$150 por mês e a dívida deverá ser quitada em 2020. A roteirista Tatiana Perl, de 32 anos, fortaleceu o laço com sua mãe ao aderir à causa e entrar na diretoria do projeto. Desde então, o maior problema enfrentado é o financeiro: o sustento vem de doações de R$30 a R$300 mensais e de produtos da Focinhos vendidos nas feiras.

As roteiristas Tatiana e Vivian na companhia de seus gatos, Gatchon e Bardot. Foto Victoria Mancino

A solidariedade também motiva a veterinária Nathaly Paiva, de 37 anos, que oferece ao projeto descontos nos procedimentos, como 80% na castração. “Faço isso para que seja possível cuidar de mais animais”, conta. Mesmo assim, o gasto do Focinhos é de R$30 mil por mês, incluindo R$200 com o resgate de cada bicho saudável.


O mesmo motivo que une Vivian e Tatiana fez com que a professora Adriana Mendes, de 42 anos, e sua filha Luiza Mendes, de 10 anos, aderissem à causa. O afeto por animais motivou a entrada das duas no Focinhos, onde Luiza resgatou e adotou o gato Pardo.


Adriana e a filha Luiza na companhia dos animais da família em seu apartamento, no Recreio dos Bandeirantes. Foto Eliza Ranieri

Dentro do projeto, ela divulga as feiras pela internet e sua mãe cuida dos documentos de adoção. Antes, Adriana transportava os animais da sede até as feiras e gastava cerca de R$90 por mês com gasolina, mas, por dificuldades financeiras, trocou sua função e hoje faz a avaliação dos adotantes. “Muita gente pega no impulso e depois desiste”, afirma.


O abandono é reflexo do individualismo que afastou o homem da natureza, segundo a psicóloga Raisa Giumelli. As consequências são visíveis: no Rio de Janeiro, houve 1.656 denúncias de maus tratos a cães e gatos feitas ao Disque Denúncia da Secretaria do Estado do Meio Ambiente, em 2016.


Para a psicóloga, o laço entre humanos e animais auxilia na criação de filhos, pois os pais são referência no desenvolvimento da personalidade humana. “Conviver com bichos na infância desenvolve o lado afetivo e solidário. Elas compreendem melhor o ciclo de vida e morte, já que animais vivem menos que humanos”, diz.



O gato Pardo toma banho de sol pelas manhãs diariamente na varanda do apartamento. Foto Eliza Ranieri

Essa situação foi vivida pela professora Pamela Von Zak, de 27 anos. Quando seu cão morreu, sua filha Anna Carolina, de 6 anos, lidou bem com a perda. A professora, então, prometeu não deixar mais animais sofrerem e entrou no Ajuda Animal Ilha, junto com sua irmã, a assistente social Paloma Von Zak, de 24 anos.


Moradores da Ilha do Governador, os Von Zak disponibilizam lar temporário, pois o projeto não possui sede. O marido de Pamela, André do Nascimento, de 31 anos, também ajuda as irmãs. Para arcar com os custos de cada resgate, que varia de R$200 a R$500, eles dependem de doações. Mesmo assim, tornaram o lar fixo para a cadela Docinho e para a gata Marie Laurie, adotadas pela família. “Não posso salvar 500 vidas, mas salvar aquela ali já faz diferença”, conta a professora.


A família Von Zak em sua casa, na Ilha do Governador, na companhia dos animais adotados. Foto Victoria Mancino

Dispor da própria casa para a recuperação dos animais também é rotina para a advogada Ana Paula Capilla, de 47 anos, e para a estudante Raquel Capilla, de 18. Juntas, criaram o Pet Sem Dono, em 2015. Elas abrigam uma média mensal de 20 bichos e chegam a gastar R$1,5 mil. Na residência de 58m² na Freguesia, os jornais são trocados quatro vezes ao dia, o chão é limpo com desinfetante e a cozinha com álcool. Assim, não tiveram problemas com a vizinhança até hoje.


A entrada do apartamento de Ana Paula e Raquel que, com 58m², abrigava 22 gatos. Foto Victoria Mancino

No pequeno apartamento, os animais ficam em cima dos móveis e prejudicam a circulação de pessoas. Potes de ração e arranhadores compõem o lugar. Os 32 quadros da sala foram presos com fita, pois os gatos os derrubavam dos pregos. As imagens de santos da cômoda foram coladas, porque os animais quebraram. Para se dedicar inteiramente a eles, Ana deixou sua profissão e hoje os gatos são sua prioridade.


Mesmo que o cenário de abandono de animais seja grave, tentar mudá-lo é o primeiro passo para que o número de bichos maltratados diminua. Por isso, essas famílias usam seu tempo e dinheiro em razão do amor sentido pelos animais.

 
 
 

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