Mulheres no futevôlei: o esporte como luta por espaço, profissão e bem-estar
- Eliza Ranieri
- 31 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de jun. de 2019
O futevôlei é uma das maiores paixões do carioca, afinal, o berço do esporte é o Rio de Janeiro. A prática, comuns nas praias da cidade, foi se popularizando e chegando a diversos cantos do país. Foi em 1998, em Goiânia, a 1.328 km do Rio, que surgiu a Confederação Brasileira de Futevôlei (CBFv). A entidade começou a regularizar o esporte, seus campeonatos e atletas que, em sua maioria, eram homens. Até que as mulheres começaram a lutar pelo seu espaço nas quadras e, hoje, estão cada vez mais presentes no cenário.
Em 2006, a CBFv oficializou o primeiro Campeonato Brasileiro de Futevôlei Feminino e, a partir disso, a presença do sexo feminino no esporte e nas escolinhas não para de crescer. Os benefícios para saúde, condicionamento físico e sensação de bem-estar ao jogar são motivos pelos quais as mulheres optam por praticar o futevôlei, e até mesmo viver dele.
É o caso da atleta Josy Souza, federada pela CBFv e atual campeã nacional da competição feminina, ao lado de sua dupla Lana Miranda. Josy cursava moda e largou tudo para viver do futevôlei, trocando o antigo curso por Educação Física. Hoje, além de competir profissionalmente, ela dá aulas e viaja por todo o Brasil para ministrar clínicas para atletas.

“Acho importante que a gente passe o conhecimento e incentive as meninas da nova geração a treinar mais o futevôlei, que é um dos esportes mais jogados no Brasil atualmente. A gente fala muito do futebol e do vôlei, mas o futevôlei está vindo com uma potência muito grande e rápida, e cresceu bastante nos últimos cinco anos”, afirmou.
Questionada sobre já ter sofrido algum preconceito, a atleta lamentou que o fato seja comum entre mulheres que estão em esportes julgados como ‘masculinos’. “Preconceito, nós mulheres, independente da modalidade, sempre vamos sofrer. Tem coisas que muitos homens não aceitam que as mulheres façam”, disse.
Mesmo assim, Josy confiou no seu prazer no esporte e resolveu viver dele. Se profissionalizou e hoje é referência no futevôlei feminino por todo o Brasil. “Hoje em dia, não tem dinheiro que pague a felicidade que eu tenho em trabalhar com o que eu amo. Isso a gente faz com prazer, com carinho, com cuidado. Isso é minha vida hoje em dia”, revelou a atleta.
O amor pela prática e pela profissão é compartilhado também por Monique Gois, professora e atleta. Ela começou a jogar enquanto estava desempregada, e nunca mais parou: se profissionalizou, passou a competir e fundou sua própria escolinha que tem seu nome. Hoje, ela diz que sua vida é o futevôlei e não se arrepende de ter largado tudo, inclusive, o casamento.

“Quando eu comecei a jogar, não deu mais certo. Ele queria ir pra um lugar e eu pra outro. Eu ficava com a cabeça do futevôlei. Antes eu vivia em função dele, minha vida mudou muito. Comecei a ter muita vontade de viajar e competir, aí meu casamento deu uma desandada (risos). E eu, com certeza, optei pelo futevôlei. Hoje em dia não abro mão dele e de ser feliz por causa de nada e nem ninguém. A gente tem que saber ceder, mas abrir mão, jamais”, confessou a professora.
Além de profissão, o esporte é sua ‘válvula de escape’. Durante uma lesão que a deixou longe das quadras da praia por quatro meses, Monique afirma que sua vida saiu do lugar. “Tudo começou a andar pra trás. Eu tive depressão, brigava com todo mundo. Minha vida é muito corrida, o futevôlei é onde eu relaxo. Quando eu fico sem isso, não consigo resolver nada. É igual uma droga”, brincou.

Hoje, a atleta está em 5º lugar no ranking brasileiro. Apesar de não ter uma dupla fixa, ela tem participado das competições ao lado de Loraine Amaral, conhecida como ‘Carioca’, apesar de ser moradora de Brasília, que é onde ela tem sua escolinha de futevôlei. Com 32 anos, ela joga desde os 25, mas ficou um tempo parada por acreditar que antigamente, o esporte era excludente.

“Eu não sabia jogar direito, jogava o misto porque não tinha tanta menina. Só que, no treino, os caras não queriam deixar treinar quem não sabia jogar. Como você aprende se você não joga? Foi muito difícil o início, mas voltei porque o amor é muito grande”, afirmou a professora. Hoje, ela viaja o Brasil todo para competir e praticar o esporte.
Josy, Monique e Carioca são atletas com uma influência significativa nas redes sociais, principalmente no Instagram. Mesmo com preconceitos e dificuldades, elas procuram mostrar o lado bom de lutar por seu espaço no esporte, e o mais importante: demonstram, na prática, que mulheres podem estar presentes não só em qualquer esporte, mas em qualquer lugar que elas desejarem.
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